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André Noel

Isolamento torna nossa dependência da tecnologia pior? Veja bem...

Andre Noel

25/04/2020 04h00

Freepik

Recentemente fui ao mercado fazer as compras, que costumo fazer a cada 15 dias. Estava tranquilo, pude escolher os produtos sem muitos problemas. Até o momento em que fui passar no caixa para pagar as minhas compras e o meu carrinho desapareceu. O que teria acontecido com ele e todos os produto que eu separei? Não, ninguém pegou meu carrinho por engano, até porque eu estava fazendo minhas compras online.

Foi uma instabilidade no sistema, mas logo voltou ao normal. Terminei minhas compras no mercado, enquanto estava em casa, descalço e com crianças pulando nas minhas costas.

De pronto eu também já estava preparado para participar de uma reunião de trabalho. Todos prontos, sentados à mesa, mas cada um em sua casa. Várias imagens de pessoas em lugares diferentes, mas todas no mesmo lugar.

Eu gosto de prestar atenção a alguns detalhes de como estamos vivendo nossas vidas reais misturadas com as virtuais, porque eu me lembro bem de quando isso era um sonho distante, uma ficção científica, mas que hoje estamos preparados. Há algumas semanas escrevi aqui sobre como a tecnologia já evoluiu a ponto de nos permitir ajustar muitos pontos da nossa vida em tempos de isolamento social.

Não sei qual é a sua idade ou quando você começou com tecnologia. Eu não tive computador em casa até os 14 anos. Decidi partir para a área de computação logo antes dos anos 2000. Lembro das previsões de comunicação e interatividade virtual como uma realidade interessante e distante. Hoje meus filhos utilizam smartphone pra brincar com os amigos da escola e acompanhar as aulas online como se fosse a coisa mais natural.

Estou há pouco mais de um mês em isolamento, tenho me mantido em família praticamente o tempo todo. Tive que sair para ir resolver coisas apenas três vezes durante esse período. Minha vida já era um pouco virtual, mas ela está ainda mais do que nunca. Tenho participado de reuniões online, comprado café pelo WhatsApp, produtos de padaria também, mercado só fazemos online, tenho falado com minha mãe por vídeo, ministrado aulas online e até participei do TDC, que seria presencial, mas fiz uma palestra de casa, no conforto do "online".

O que isso implica para nós? Boa parte já fazíamos assim. Quem nunca chamou alguém da família pelo celular quando essa pessoa estava na mesma casa, mas em outro cômodo? Estamos muito "virtuais", nossos avatares já nos representam em diversas ocasiões. Mas essa situação de isolamento tem potencializado isso, nos mostrando quanta coisa a gente pode fazer sem sair de casa e como podemos aproveitar da tecnologia em nosso dia a dia.

Ontem mesmo eu publiquei um vídeo atentando para isso, sobre como a gente pode migrar reuniões e processos para a internet para preservar as pessoas e como podemos nos esforçar para manter, principalmente enquanto não tiver uma proteção real contra essa doença.

Apesar da utilidade e da facilidade, nós também temos a tendência a perder o foco em muitas das atividades. Você participa da reunião enquanto faz outras atividades no computador, você trabalha enquanto se distrai com entretenimento, você passa a ser muito mais multitarefa e a resolver muitas coisas ao mesmo tempo e é preciso se policiar.

Lembram-se do filme "De Volta Para o Futuro 2" (o único em que ele realmente vai para o futuro)? Eles chegaram bem próximos à nossa realidade no ponto onde um dos filhos chegava em casa e ligava oito canais de TV ao mesmo tempo e onde o filho e a filha iam para a mesa de jantar com os telefones, que no caso eram óculos, como os que temos de realidade virtual.

Isso acontece. Meu filho de dez anos gosta de jogar no computador enquanto assiste vídeos de youtubers jogando outros ou o mesmo jogo. Ele coloca um fone no computador e outro no celular para ouvir ambos ao mesmo tempo (Não, eu não apoio isso e é assunto nosso muitas vezes…). Eles também gostam de levar o celular para a mesa, mesmo que a gente não os deixe comer assistindo. Chegamos num ponto bem parecido ao filme.

No fim das contas, a tecnologia já mudou a nossa forma de interagir. Acredito que nosso isolamento deu um impulso onde adiantamos alguns anos na nossa dependência da tecnologia e também no desenvolvimento, vendo várias opções de tecnologia surgirem ou melhorarem para se adequar ao momento. Seja bem vindo à sua vida virtual. Ela é mais legal do que o Second Life, mas ainda não tão isolada e preguiçosa como a do Wall-e.

Sobre o Autor

Andre Noel é programador, webcartunista, autor do Vida de Programador, professor universitário (UEM e Unicesumar), youtuber e sabe pregar botões em roupas.

Sobre o Blog

Quem é de TI sempre recebe pedidos para criar "só um sisteminha simples". A gente sabe que nunca é simples. Por isso, aqui no blog vamos falar sobre o grande universo de TI --que às vezes é engraçado, às vezes é sofrido e muitas vezes é tudo isso.